Osusp e a truculência do autoritarismo
O ano de 2012 começou com uma ingrata surpresa, caiu-me a cara no chão quando soube da triste notícia.
A Revista Concerto publicou e o Jornal do Brasil confirmou. A temporada de 2012 não contará com a batuta de Lígia Amadio à frente da Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo. Após duas temporadas completas, programas que abrangeram um repertório complexo e rico, sempre lembrando dos compositores nacionais, qual o prêmio que a maestrina recebe? Uma medalha de Honra ao Mérito? Não, caros amigos, a não renovação de seu contrato.
Uma questão perturba minha mente e lembrei-me da data de sua nomeação. A maestrina foi eleita pelos membros da orquestra, por voto direto após uma lista tríplice. Imaginei que os músicos não a desejassem mais e a tivessem defenestrado. Pergunto a algumas fontes, colegas que conhecem a fundo a orquestra e descubro uma verdade aterradora. Os músicos da OSUSP não elegem mais o regente . “Democraticamente”, mudaram o estatuto… no calar da madrugada uma virada de mesa. Todo o poder cabe à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, chefiada pela Socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda, juntamente com o diretor da OSUSP, professor Edson Leite. A Universidade de São Paulo sempre teve princípios democráticos em seu lema, mas essa mudança me lembra a truculência da ditadura militar.
O novo formato escolhido para a OSUSP em 2012 não é utilizado em lugar algum. Convidar um regente a cada concerto, é fazer leilão. Toda grande orquestra possui um regente titular, convidam-se alguns regentes para a orquestra ganhar experiência. Um titular é imprescindível na unidade e na sonoridade. O futuro com esse formato é incerto, cada um metendo sua colher… vai azedar o bolo.
Lígia Amadio fez um grande trabalho com a OSUSP. Deu sonoridade, corpo, estilo em um repertório complexo. Muitos em seu lugar poderiam optar pelo arroz com feijão e fazer repertórios fáceis. Lígia Amadio não teve mede de correr riscos, colocou sua orquestra para tocar Mahler, Rachmaninoff, Sibelius, Prokofiev, Brahms e Liszt entre outros. Compositores nacionais de todos os estilos participaram de seus programas. Exigiu tudo dos músicos, trouxe grandes solistas, lotou a Sala São Paulo. Trabalho impecável recompensado com uma demissão.
O público se importa com sua saída, cara maestrina, os músicos se importam com sua saída, a música se importa, eu me importo. Perde a cidade de São Paulo e ganha o autoritarismo. canada pharmacy online 24
Conheço a maestrina Lígia Amadio desde que ela comandava a Orquestra Sinfônica Nacional da UFF, em Niterói. Muitas vezes, escrevi sobre a atuação dela em concertos aqui no Rio.
Só tenho que apoiar a revolta do comentarista. Sabe-se lá porque obscuras razões toma-se uma atitude dessas? Nós não sabemos, é claro…
Lígia, graças a Deus, muita gente foi testemunha da sua capacidade e não vão faltar pessoas inteligentes que lhe deem o devido valor.
A justificativa dada por Edson Leite para o afastamento de Ligia Amadio é, para dizer o mínimo, uma piada. Disse ele à Revista Concerto: “A OSUSP é uma orquestra dinâmica e, neste momento, decidiu-se por aproveitar vários talentos na regência da próxima temporada do grupo, que é suficientemente maduro para desempenhar um trabalho de ótimo nível com os convidados”.
Trata-se, obviamente, de desculpa esfarrapada. Faço minhas as palavras do Ali: toda orquestra necessida de um regente titular que burile o seu som e lhe dê personalidade artística.
Se com um regente titular essa tarefa já é hercúlea (vide o caso de Tortelier na OSESP, que em nada ou quase nada contribuiu para o crescimento da orquestra), sem sua presença tal meta torna-se, simplemente, impossível de ser alcançada.
Pois é; um trabalho impecável à frente da orquestra da USP e uma demissão como agradecimento. Só aqui mesmo é que acontecem essas coisas. Música é arte e cultura, e não é assim que se edificam simultaneamente.