Minha casa, minha vida
Soprano japonesa Hiromi Omura tem atuação arrebatadora na ópera Madama Butterfly, no Rio de Janeiro.
Uma pequena casa no alto de uma colina sobre a baía de Nagasaki. Nesse delicado cenário desfilam algumas características humanas: inocência e cinismo, leviandade e comprometimento, luxúria e perdão, altivez e vergonha. É nessa casa em que se desenrola a trama de uma das mais belas e populares óperas de Giacomo Puccini: Purchase Madama Butterfly, cuja estreia ocorreu em 1904 e, mais de um século depois, foi (re)apresentada de 30 de novembro a 7 de dezembro como parte da (pífia) programação operística de 2014 do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
O irresponsável tenente da Marinha norte-americana B. F. Pinkerton arrendou, do online nakado Goro, a casa por 999 anos e, junto com o imóvel, comprou uma esposa: a jovem gueixa Cio-Cio-San, de apenas 15 anos, conhecida, por sua delicadeza, como Butterfly (borboleta). Mesmo diante dos conselhos do cônsul norte-americano Sharpless, Pinkerton não se conscientiza de que a japonesa não encara aquela união com a mesma despretensão que ele. De fato, aí reside a inexorabilidade do libreto (de Luigi Illica e Giuseppe Giacosa, baseado no drama de David Belasco, o qual, por sua vez, se inspirou em uma história do norte-americano John Luther Long): a alegria de Butterfly diante de suas bodas apenas aumenta a profundidade do abismo no qual, com o fôlego em suspenso, estamos prestes a ver a personagem despencar.
Diz a lenda que Puccini não gostava que cantoras orientais interpretassem sua heroína. A lenda certamente se curvaria à atuação visceral da soprano japonesa Hiromi Omura Buy , a única verdadeira novidade desta montagem (reciclada de uma apresentada em 2002 no mesmo teatro). Com sua voz forte e esplendorosa, plena de sentimentos e verdade, Omura encarna com total entrega o completo arco da personagem, da inocência ao estoicismo derradeiro. A entrada em cena de Butterfly no primeiro ato é pura poesia, ainda que de fundo amargo: os olhos da cantora revelam a excitação que habita o coração da jovem noiva; ela anuncia o amor e vem, leve, nas asas de uma borboleta, quando sabemos que esse sentimento que borbulha no âmago da moça significa apenas luxúria para seu leviano amado.
Se, no primeiro ato, Omura dá à sua Butterfly uma leveza esvoaçante, no desenrolar da história a densidade vai ganhando terreno à medida que o trágico se aproxima. Tanto que à sua interpretação da clássica ária Un bel di vedremo, se faltou suavidade, transbordou de emoção, transformando-a em um dos momentos mais líricos do espetáculo.
Ao seu lado, em excelente atuação, a mezzo where to buy metoclopramide soprano Denise de Freitas encarnou uma Suzuki subserviente e, ao mesmo tempo, forte. Sua bela e encorpada voz soou harmônica junto à da protagonista. As atrizes/cantoras alcançaram tamanha integração que a segunda metade do segundo ato, em particular, fluiu de maneira espantosa: a encantadora criança (David Weintraub) brincando enquanto as duas mulheres debatem a vinda do marinheiro. Era impossível desprender olhos e ouvidos da ação em cena.
Os que ardem de desejo
A escrita de Puccini para os tenores é gloriosa, e Fernando Portari aproveitou bem seus momentos como Pinkerton. Figura recorrente como tenores heroicos e românticos, Portari é dono de timbre brilhante e agradável, e de excelente projeção. Sua atuação esbanjou um charme cafajeste no primeiro ato e chegou às raias do desespero no terceiro, com uma bonita e triste interpretação de Addio, fiorito asil.
Rodolfo Giugliani encarnou um Sharpless mais introspectivo e fez ótimo contraponto ao esfuziante Goro de Sergio Weintraub. Ambos corresponderam à altura em seus papeis. A pequena participação de Daniel Soren como o tio Bonzo foi mais marcante, em especial devido à excelente caracterização dourada – os figurinos de Cica Modesto, em geral corretos, tiveram nesse personagem seu ponto alto.
Completaram o elenco Ivan Jorgensen como Yamadori (por que um tenor em papel para barítono?), Vivian Delfini como Kate Pinkerton, Ciro D’Araújo como Comissário Imperial e Patrick Oliveira como Oficial do Registro Civil.

O cenário de Renato Theobaldo é delicado: a casa no alto da colina é construída em papel (remetendo ao tradicional papel de arroz) e bambu. Há uma ponte ao fundo e um grande círculo recebe tanto o vermelho sol como a prateada lua. As instalações ganham vida nova com a bonita luz de Carina Stassen, que cria impressionantes efeitos visuais com belos sombreados.
A direção de Carla Camurati mantém a ópera nos trilhos e permite aos intérpretes o desenvolvimento das emoções dos personagens. A encenação cria um momento especialmente mágico: no segundo ato, durante o dueto das flores (Scuoti quella fronda del ciliegio), no qual Cio-Cio-San e Suzuki enfeitam a casa com flores para a suposta volta de Pinkerton. O cenário se enche de brancos tsurus (pássaros brancos de origami), os mesmos que representam a realização dos desejos e a esperança.
Em compensação, a mesma direção, com a participação da vídeo designer Laís Rodrigues, conseguiu destroçar um dos interlúdios mais delicados da história da ópera. Ao projetar sobre a casa horrendas imagens marítimas, sem a menor coerência com a proposta visual e estética do restante do espetáculo, as artistas esvaziaram de emoção o tocante coro a bocca chiusa viagra without perscription cheap que cobre a vigília de Butterfly (ainda que a execução do Coro do Theatro Municipal do Rio de Janeiro http://www.ashleekim.com/cheap-premarin-no-prescription/ tenha sido a contento).
À frente da Orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o maestro Isaac Karabtchevsky conduziu a música com galhardia e precisão. Mesmo com andamento ligeiramente acelerado em alguns poucos momentos, o regente extraiu boa sonoridade dos músicos, permanecendo a orquestra bastante integrada à ação, em volume e intenção.
Vaias à parte (provavelmente direcionadas à gestora, não à diretora), Camurati faz um trabalho correto na mise en scène Order desta Madama Butterfly. É fato que um teatro do porte e da importância do Municipal merece mais que uma Cheap Butterfly requentada para fechar um 2014 paupérrimo no campo lírico. Apesar de um belíssimo trabalho, digno das acaloradas ovações que recebeu, a participação de uma soprano como Hiromi Omura não apaga a memória de uma temporada que, se fosse no Japão, levaria seus gestores aos haraquiri.
Fotos do post: Sheila Guimarães