Teatro Real da Espanha apresenta sofisticada montagem da A?ltima A?pera de Mozart: La Clemenza de Tito.
A A?ltima A?pera de W. A. Mozart foi a primeira a que este autor assistiu no Teatro Real, em Madri. La Clemenza de Tito estreou em setembro de 1791 e foi composta em apenas 18 dias a�� atropelando A Flauta MA?gica, trabalho que estava em andamento e estreou no mA?s seguinte, e o cA�lebre http://osfatundent.com/2018/02/02/pristiq-price-in-india/ RA�quiem, cujas notas jA? comeA�avam a colorir a partitura. Consta que, para La Clemenza, Mozart incumbiu seu fiel assistente Franz Xaver SA?ssmayr de compor os recitativos secco. Esta A?pera sA�ria foi criada para a coroaA�A?o de Leopoldo II e escrita a partir de libreto original de Pietro MetastA?sio, redigido 57 anos antes e (bastante) adaptado por Caterino MazzolA�.
A temporada de Cheap La Clemenza de Tito no Teatro Real espanhol ocorreu de 19 a 28 de novembro. A montagem, jA? apresentada no Real em 2012 e procedente do Festival de Salzburgo, teve direA�A?o cA?nica de Ursel e Karl-Ernst Herrmann, e direA�A?o musical de Christophe Rousset. Participaram Coro (preparado por AndrA�s MA?spero) e Orquestra Titulares do Teatro Real, sob a regA?ncia de Rousset (tambA�m ao pianoforte). A atual montagem rendeu homenagens ao belga Gerard Mortier, morto de cA?ncer aos 70 anos, em abril de 2014. Mortier era diretor artA�stico do Teatro La Monnaie, em Bruxelas, em 1982, quando o casal Herrmann dirigiu esta A?pera pela primeira vez.
Ainda que composta por um gA?nio efervescente como Mozart, La Clemenza de Tito nA?o A� uma A?pera fA?cil. Dos 26 nA?meros da partitura, apenas 11 sA?o efetivamente A?rias a�� poucas com motivaA�A?o dramA?tica verdadeiramente intensa e nenhuma realmente memorA?vel (ainda que muitas tenham a marca da sofisticaA�A?o musical do autor). Recebida com frieza em sua estreia em Praga, precedeu em semanas a morte do compositor e tornou-se, no inA�cio do sA�culo seguinte, talvez como um reconhecimento post mortem, um dos tA�tulos mozartianos mais famosos em Londres, NA?poles, SA?o Petersburgo, Paris e MilA?o a�� antes de ser relegada ao quase esquecimento, engolida por outras obras lA�ricas mais populares, como Cosi Fan Tutte, Don Giovanni e A Flauta MA?gica.
A trama da A?pera cai bem ao momento de sua criaA�A?o (e a tantos outros): um ano apA?s a RevoluA�A?o Francesa, Mozart parecia mandar um recado aos poderosos: “A clemA?ncia A� uma virtude dos bons governantes” (em resposta, a imperatriz Maria LuA�sa da Espanha chamaria a A?pera de “porcaria alemA?”). Em dois atos, a histA?ria gira em torno de dois eixos: a determinaA�A?o de Vitellia, filha do imperador deposto, de vingar-se de Tito a�� por quem estA? apaixonada a�� quando ele resolve escolher outra mulher como esposa; e a inclinaA�A?o de Tito a mostrar-se clemente em quaisquer circunstA?ncias a�� inclusive em uma trama para assassinA?-lo em um incA?ndio no CapitA?lio romano.
online Peso e leveza
Ainda antes de as cortinas subirem, o palco do Real exibia um vistoso painel com um cA�u cheio de nuvens carregadas. Na Abertura, sob a conduA�A?o de Rousset, a orquestra alternou, de forma comedidamente efusiva e com silA?ncios marcados, gravidade e leveza, navegando com a mA?sica entre as dicotomias da obra: ciA?me, vinganA�a, traiA�A?o, violA?ncia, e fidelidade, amor, contenA�A?o e benevolA?ncia.
Ao abrir o pano, um cenA?rio branco, ofuscantemente iluminado, clean e elegante, com poucos elementos: duas cadeiras, uma melancia com uma faca cravada e, no alto, uma pavoa. Grandes portas ao fundo e nas laterais permitem a movimentaA�A?o de atores e objetos cA?nicos. Outros elementos povoam o quase assA�ptico palco: um fragmento de coluna, uma canoa, uma grande rocha. Karl-Ernst Herrmann assina cenA?rio, figurino e iluminaA�A?o, e opta, com tanta luz e clareza, por fazer referA?ncia ao SA�culo das Luzes iluminista e sua grande fA� no poder da razA?o humana.

Se nos cenA?rios hA? apenas menA�A�es estilizadas a Roma Antiga (como uma grande estA?tua), os impactantes figurinos sA?o atemporais e sofisticados. Os personagens masculinos usam bem cortados ternos, pantalonas e compridas casacas, e os femininos, vistosos vestidos, com uma interessante escolha de cores a�� vide o exuberante longo fA?csia usado pela manipuladora Vitellia. A A?nica exceA�A?o A� um A?nico vestidinho bem jeca http://convergente.pt/duphalac-price-in-india/ escolhido para a jovem Servilia. Os integrantes do coro, por sua vez, usam etA�reos costumes brancos. Alguns adereA�os, como capas, mA?scaras e coroas de louros, completam o visual.
A megera indomada
No A?mbito dramA?tico, a grande forA�a motora de La Clemenza de Tito A� Vitellia a�� papel escrito, ao que consta, para Aloysia Weber, que foi amante do compositor. A ela pertencem os humores, fA?rias e arroubos de diva que fazem girar a roda da trama. A soprano canadense Karina Gauvin se entregou de corpo e alma A� voluntariosa personagem. Dona de hipnA?tica presenA�a cA?nica e voz bonita e A?gil, a cantora foi capaz de expressar do ciA?me doentio A� culpa amargurada da apaixonada mulher. Sensualidade, lascA�via e malA�cia emanavam de suas cordas vocais na insinuante A?ria Deh se piacer me vuoi, e a pavoa do cenA?rio abria a cauda enquanto Vitellia, feito a Gilda de Hayworth, despia-se de suas luvas, insinuando jogos sexuais e seduzindo o inocente Sesto. Ao fim, em Non piA? di fiori vaghe catene, mesmo em andamento cansativamente lento e com dinA?mica um pouco frouxa, Gauvin esbanjou tA�cnica.
O atormentado e inseguro Sesto foi vivido majestosamente pela mezzosoprano italiana Monica Bacelli. A cantora A� a perfeita intA�rprete mozartiana: timbre de cores profundas e emissA?o impecA?vel, sem perder a suavidade e, ao mesmo tempo, com carga dramA?tica a�� malA�cia e indecisA?o no primeiro ato, culpa e angA?stia no segundo. Nesta sua estreia no Teatro Real, mostrou recitativos projetados e bem articulados, e sua interpretaA�A?o da A?ria Purchase Parto, ma tu bem mio a�� um dos pontos altos da A?pera a�� teve execuA�A?o irretocA?vel, com arrebatadores pianissimi e muita pungA?ncia.


O inglA?s Jeremy Ovenden tambA�m se mostrou uma boa escolha para o papel de Tito. Dono de uma voz lA�rica muito delicada (talvez um pouco mais de robustez vocal nA?o faria mal), o tenor cantou com
De peito arfante como um Cherubino apaixonado, o Annio da
Foi doce a entrada em cena da Servilia da soprano espanhola Sylvia Schwartz: surgiu graciosamente em uma canoa. Apesar do figurino infeliz, a voz A� agradA?vel e sua A?nica A?ria (Sa��altro she lacrime per lui non tenti) foi cantada com sentimento.
O barA�tono italiano Buy Guido Loconsolo encarnou Publio, capitA?o da guarda pretoriana. Sua encorpada voz, de belo timbre, careceu um pouco da leveza do espA�rito mozartiano. Ainda assim, o cantor fez bonito em seus recitativos, bem como na A?ria Tardi sa��avvede da��un tradimento.
ExperiA?ncia marcante
As excelentes intervenA�A�es do coro foram cheias de vigor e alegria, com interessante movimentaA�A?o. A direA�A?o aproveitou todos os momentos da cena, plantando, aqui e ali, milimetricamente, olhares, reaA�A�es e gestos, dando vivaz movimento A� aA�A?o.
Christophe Rousset conduziu a mA?sica com graA�a e domA�nio, ainda que tenha dado valor um tanto excessivo aos silA?ncios e arrastado alguns andamentos. Mesmo com pequenos senA�es, esta (re)montagem de La Clemenza de Tito levada A� cena pelo Teatro Real foi uma experiA?ncia inesquecA�vel, que deixou marcas duradouras em ouvidos e retinas. A Casa espanhola fez jus A� sua majestade e apresentou uma atraA�A?o levada A� cena com criatividade cA?nica, elegA?ncia musical e muita sofisticaA�A?o, mostrando o que faz de uma obra um verdadeiro clA?ssico.
Para quem pretende visitar o belo teatro espanhol, a temporada 2016-2017 tem agendados os seguintes tA�tulos: O HolandA?s Voador/O Navio Fantasma, de R. Wagner (17 de dezembro a 3 de janeiro); Billy Budd, de B. Britten (31 de janeiro a 28 de fevereiro); La Ciudad de las Mentiras, de Elena Mendoza (20 a 26 de fevereiro); Curlew River, de B. Britten (4 de marA�o); Rodelinda, de G. F. Haendel (24 de marA�o a 5 de abril); Bomarzo, de A. Ginastera (24 de abril a 7 de maio); O Galo de Ouro, de N. Rimski-Korsakov (25 de maio a 9 de junho); Madama Butterfly, de G. Puccini (27 de junho a 21 de julho), e Macbeth, de G. Verdi (versA?o de concerto, 11 a 17 de julho).
Fotos de Javier del Real | Teatro Real. Na foto do post, Monica Bacelli (Sesto) e Karina Gauvin (Vitellia).